sábado, dezembro 11, 2010

O enigma de Kaspar Hauser

 

     Teria sido a linguagem um acidente histórico? E a escrita, também foi um acaso? Historicamente, é pequeno o período da linguagem e menor ainda o da escrita.
    Como se relacionavam os seres humanos, antes que os símbolos que hoje dominam nossa linguagem não existiam? E quem, e como são produzidos os símbolos?
    Segundo Wittgenstein, linguagem é comportamento. Desta forma, quem melhor domina os símbolos da linguagem, mais aceito socialmente será, se pensarmos da mesma forma com a escrita, encontraremos pessoas cujo dominio é falho e são descriminadas ou até mesmo afastadas de grupos letrados.
    Kaspar Hauser, não correspondia com os padrões de comportamento tidos como esperados. E através da linguagem a sociedade tentará fazê-lo compreender aquilo que sua natureza não concebe: a representação.
     Kaspar Hauser é um individuo do século XIX, que nasceu em uma Alemanha que não não existia como Estado e que como em toda a Europa foi marcada pela perspectiva positivista, evolucionista e desenvolvimentista. A visão de que havia um modelo de civilização e de desenvolvimento a ser alcançado, tanto pelo homem, quanto pelas sociedades.
    Kaspar é um estranho para a sociedade e a sociedade é estranha para ele. Mesmo aprendendo a falar, mesmo aprendendo alguns signos, isso não lhe permite capturar esse estranho mundo em que vivem as pessoas. O ambiente em que foi inserido, apesar de ser exlicado pela linguagem, pelas palavras, por signos lingüisticos, permanece, para ele, indecifrável.
    Vygotsky, insiste que o pensamento e a linguagem se originam independentemente, fundindo-se mais tarde no tipo de linguagem interna que constitui a maior parte do pensamento maduro.
    Blikstein - diz que a educação não passa de um construção semiológica que nos dá a ilusão da realidade; ou seja, a educação vai estimulando na criança um processo de abstração.
    A percepção depende sobretudo da prática social.
    Fica evidente que sua percepção da realidade esta distante, desvinculada, à pratica social, necessaria para gestar o referêncial cultural de interpretação da realidade.
    Podemos concluir que não apenas a percepção, mas a linguagem, e as estruturas mentais são resultantes da prática social, ou seja, as práticas culturais "modelam a percepção da realidade e o conhecimento por parte do sujeito.
    O mundo é visto como recortes, classificados por "óculos sociais". O ser humano é um animal de costumes, como escrevia Charles Dickens.
    Alguém como Kaspar Hauser que enxergava,mesmo na escuridão, e que ouvia os gritos do silêncio, (coisas inconcebíveis para o homem "civilizado") não poderia ser visto como normal.
(postado por Patrick Cesar, professor)

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